27 junho 2006

Sentidos Cruzados



Consigo ver os sons,
Arrancados da viola,
Flutuando sem destino,
Preenchendo o volume da sala,
Gritando versos dum hino,
Que me tranquiliza e embala.

Consigo cheirar a água,
Que escorre pela parede,
E o odor das suas gotas,
Faz-me desejar ter sede,
Sede de amar e viver,
Sede de nunca ceder.

Consigo ouvir o aroma,
Que envolve este cinzeiro,
Tem uma tonalidade tão forte, tão alta,
Mais aguda que o próprio cheiro.
E o fumo declama poemas de paixão e dor,
Letras melancólicas
Escritas pelo sopro dum fumador.

Consigo saborear o cartaz,
Colocado na vitrine,
Tem vários ingredientes,
Mas só um sabor o define.
Um sabor a ferida aberta,
Envolta numa tira de gaze.
Um sabor melancólico e triste,
Fruto dum improviso de jazz.

Consigo sentir as cores,
Que me beliscam os dedos,
Teclas brancas e pretas,
Pressionadas com desejo e sem medos.
Pianos arrebatadores,
Delicados e transparentes.
No fundo são de todas as cores,
Que me tocam e deliciam,
Tal como tu, meu amor,
Me surpreendes…