28 junho 2006

Elogio à Loucura



Repudio a lucidez,
Inimiga da verdade,
Da minha verdade,
Daquela em que eu acredito.

Desprezo a lucidez,
Aliada da tristeza,
Aquela que impede os sonhos
A que eu próprio me permito.

Abomino a lucidez,
Impávida destruidora
De deliciosos fetiches nocturnos.

Critico a lucidez,
Por nos deixar cegos, surdos e mudos.

Detesto a lucidez,
Pela lúcida vertente ditadora que ostenta.

Combato a lucidez,
Com copos dourados e fumos magenta.

Receio a lucidez,
Pela cruel monotonia que impõe na minha vida.

Comparo a lucidez
Ao agonizante e previsível trajecto
De um condenado infectado com sida.

Declaro que a lucidez
É o maior flagelo da humanidade!

Atribuo a lucidez ao diabo,
Como sendo a sua mais nefasta crueldade.

Feliz de quem abraça o impossível
Com um certo grau de ternura.

Loucos são aqueles
Que elegem a lucidez
Em detrimento da loucura!

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ei Zekarlos... gostei do seu blog.
:-) Um bjo

15:32  
Anonymous Anónimo said...

Sabes, à vista dos normais sou louca, porque acredito que todos podem melhorar aquilo q têm dentro de si. Mas se eu, num acesso de "normalidade", não acreditasse... deixaria de saber quem sou!
Acho que compreendes isso tão bem que o transmites por palavras melhor do que ninguém.
bjinhux

14:15  
Anonymous Anónimo said...

O que é a sabedoria? É a felicidade na verdade, ou «a alegria que nasce da verdade». Esta é a expressão que Santo Agostinho utiliza para definir a beatitude, a vida verdadeiramente feliz, em oposição ás nossas pequenas felicidades, sempre mais ou menos factícias ou ilusórias. Sou sensível ao facto de que é a mesma palavra beatitude que Espinoza retomará, bem mais tarde, para designar a felicidade do sábio, a felicidade que não é a recompensa da virtude mas a própria virtude... a beatitude é a felicidade do sábio, em oposição às felicidades que nós, que não somos sábios, conhecemos comumente, ou, digamos, às nossas aparências de felicidade, que às vezes são alimentadas por drogas ou álcoois, muitas vezes por ilusões, diversão ou má-fé. Pequenas mentiras, pequenos derivativos, remedinhos, estimulantezinhos... não sejamos severos demais. Nem sempre podemos dispensá-los. Mas a sabedoria é outra coisa. A sabedoria seria a felicidade na verdade.
A sabedoria? É uma felicidade verdadeira ou uma verdade feliz. Não façamos disso um absoluto, porém. Podemos ser mais ou menos sábios, do mesmo modo que podemos ser mais ou menos loucos. Digamos que a sabedoria aponta para uma direcção: a do máximo de felicidade no máximo de lucidez.

André Compte-Sponville, in 'A Felicidade, Desesperadamente'

23:29  
Anonymous Anónimo said...

Longe de mim pensar que sou sábio!!! E cada um "procura" a felicidade da maneira que quiser...

23:53  

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