11 outubro 2007

Por vezes...



Por vezes dou por mim a sorrir...
Por vezes dou por mim a cantar...
Por vezes dou por mim a sorrir quando canto, distraído, a letra tremida daquela canção. Aquela canção da qual até nem gosto... mas que, por vezes, se entranha e encarna no meu conteúdo.
E, contudo, vou cantando! E vou sorrindo...
Por vezes dou por mim a correr...
Por vezes dou por mim a subir...
Por vezes dou por mim a correr quando subo, ofegante, contra a corrente daquela multidão. Aquela multidão que até teima em descer... mas que, por vezes, se abre em caminho para eu passar.
E, sorrindo ao passado, vou seguindo! E vou correndo! Por vezes cantando...
Por vezes dou por mim a sorrir, feliz, colhendo uma flor no canto daquele jardim. Aquele jardim no qual até passo todos os dias, correndo... mas que, por vezes, floresce no encanto de me sentir assim.
E assim vou vivendo...

04 outubro 2007

1 Minuto de Sol

Por entre a imensidão de momentos sombrios que passei nas trevas, o único que recordo é aquele minuto de Sol... :)

01 outubro 2007

O Pesadelo da Insónia



Estás cansado…
Fechas os olhos com um pequeno gesto pestanejante, enquanto perguntas a ti próprio: “Para quê?” – Sabes que não vais conseguir dormir!
Abres os olhos! Deixas o teu olhar sincopado contar os pontos negros do primeiro quadrante desse borbulhento tecto, numa tímida tentativa extravagante de quantificares o infinito acne que povoa todo o céu do teu quarto.
Estás inquieto…
Rebolas na cama, uma vez, duas vezes, três…
Quatro da manhã!
Procuras um tesouro debaixo da almofada, qual Pirata Imberbe Azul, ainda confuso com o fuso horário desfasado da viagem… Seis da tarde?
Cinco da manhã!
Estás perdido…
Sais da cama com um passo inconstante, sem farol, e embates noutro pouso, encostado a um canto. Depois do choque, o dedo grande do pé faz-te recapitular, mentalmente, todos os palavrões que conheces, em diversas línguas, até que esqueces a dor.
Sentas-te e ris… Naufragas na intermitência duma divertida flatulência desprovida de odor, qual Condenado à Vida na Cadeira Acústica.
Estás só…
Folheias o recheado catálogo consumista duma qualquer hiper superfície comercial. Indignas-te ao não encontrar comida de gato com sabor a rato e, nesse momento, reparas que a solidão se tem revelado bastante produtiva… Tens aprendido mais contigo próprio do que com os outros!
Estás louco…
Voltas para a cama e encontras, entre os lençóis da memória, a imagem daquele menino que foi a Boston buscar novos rins… Ficou famoso, mas morreu na mesma! Pensas na sorte que tens…
Estás vivo…
Ouves um tiro.
Sentes o projéctil rodopiar em torno dum corno de rinoceronte.
As rãs coaxam, como se nada fosse, e tu continuas ali, na subcave dum prédio de 57 andares, em plena selva Amazónica.
Ela aparece e abre-te a boca. Fica a contemplar, sorridente, os pedaços de tártaro que invadem o flanco esquerdo da tua mandíbula, confortavelmente instalados na parte posterior de dois incisivos.
O que ela realmente procura é a bala que o japonês disparou, e nada mais lógico, como chumbo que é, que tenha encontrado o local ideal para passar o resto dos seus dias refastelado num dente. O seu bem merecido paraíso…
Sim, vida de chumbo não é fácil. Então agora, que foi rejeitado pela gasolina!
Foi uma história de amor que acabou mal e que nos faz saltar para a primeira metade do século passado, em pleno Médio Oriente… – Despertas em sobressalto!
Estás baralhado…
Quando, finalmente, a tua alma rebelde consegue embarcar num flutuante sono reparador, é invadida por um dissonante pesadelo, tão ou mais trágico que a própria insónia!
Pegas numa caneta!
Pensas que enquanto tiveres tinta e papel,
Serás como abelha, produtora de mel.
Para nos adocicar a alma, suavizar os sentidos.
Fazer-nos apreciar todos os momentos vividos…
Estás confiante…
Não passas de um sonhador inato, um mero defensor de causas perdidas, com liberdade de escolha entre uma só opção. Pensas que vais conseguir?
ACORDAAA!
Pfff… Nem isso consegues…
Não estás a dormir!